O termômetro marca quarenta graus. A criança debate-se em convulsões próprias de tão elevada temperatura. Constatada a infecção pelo clínico da família, a medicação antibiótica é aplicada sem demora, sob a expectativa ansiosa dos pais, que não se afastam do leito bem cuidado.
A febre parece não ceder, e, enquanto a madrugada avança lentamente, eles permanecem em dolorosa vigília e ardentes orações.
Acompanhando a silenciosa luta do frágil ser contra a morte, indagam de si mesmos como pudera a enfermidade assumir características tão avassaladoras! Evidentemente, uma causa houvera! Algo que enfraquecera as defesas orgânicas, permitindo a incursão dos bacilos geradores do grave processo patológico! Como teria acontecido, se todos os cuidados eram dispensados ao rebento querido, desde a rigorosa higiene ao mais perfeito regime alimentar?
Nunca poderiam imaginar, no entanto, que fora um lamentável descuido de sua parte que envenenara a criança, comprometendo a ação dos agentes imunológicos. Mas um envenenamento que não deixara vestígios… Dias antes tiveram violenta discussão, dessas comuns em lares que não são habitados pelo respeito e pela compreensão. Enquanto trocavam palavras ásperas e impensadas, suas mentes, descontroladas pela ira, emitiam vibrações que tornavam deletéria a atmosfera psíquica da casa. Ao sofrer o impacto do ambiente viciado, o pequeno ser tornou-se vítima da insensatez de seus genitores.
Não podemos olvidar, para perfeita compreensão do fenômeno, que a nossa mente funciona qual autêntico gerador de força magnética, a expandir-se por pensamentos e palavras.
Quando nos mantemos equilibrados na serenidade, suas emissões são sempre salutares, favorecendo harmonia em nosso derredor. Entretanto, se nos dominam a cólera, o rancor, o ciúme, ou qualquer outro sentimento de agressividade, desregulamos os centros de energia mental e passamos a emitir, qual instalação elétrica em curto-circuito, forças destruidoras que comprometem nossa estabilidade espiritual e a salubridade do ambiente em que nos detemos.
Sendo estas explosões mais frequentes na intimidade do lar, onde se rompe com maior facilidade o leve verniz de civilização que a vida em sociedade impõe, as crianças são as primeiras a sofrer as consequências, em virtude de sua frágil constituição.
Há mulheres que envenenam o leite materno com pensamentos menos dignos; homens que levam para seus filhos as mais nocivas influências colhidas no vício, e casais que, em constantes desavenças, formam lares psiquicamente negativos para os pequenos.
Quando aconselhados a sofrear seus maus impulsos, muitos dizem, simplesmente: “Impossível, pois meu gênio é assim! É a minha natureza!”
Todavia, tal afirmativa encerra um absurdo inconcebível, inspirado em raciocínio simplista. Aceitá-la seria admitir que Deus criasse Espíritos violentos e viciados.
A Doutrina Espírita é muito clara ao revelar que para o perfeito desenvolvimento físico e espiritual dos rebentos queridos, a alimentação sadia, o vestuário adequado e os cuidados higiênicos são importantes, mas a harmonia no lar, garantida pelo esforço da vivência cristã, é indispensável.
Recusar atender-lhe às advertências seria demonstrar a triste cegueira de quem não quer ver!
Foto Ismael Gobbo